Uma das maiores curiosidades que precedem uma Copa do Mundo, é descobrir quais serão as camisas usadas pelas seleções, afinal, serão com elas que momentos inesquecíveis ficarão para sempre gravados na memória dos amantes do futebol.
No entanto, antigamente a escolha dos uniformes não era tão rígida e nem prezava de tanta expectativa do público, já que o acesso ao material esportivo era muito mais difícil e muitas vezes se sabia apenas no momento do jogo se seria preciso fazer alguma alteração nos fardamentos, por conta disso, a Copa do Mundo está recheada de momentos curiosos.
A FIFA.com fez um resumo de histórias incríveis ocorridas em Mundiais antes de a confecção dos uniformes ser minuciosamente estudada como hoje em dia. Confira!
Camisas anti-umidade da Inglaterra
O México organizou as Copas do Mundo de 1970 e 1986. Em ambas, uma das preocupações das seleções visitantes eram o calor e a umidade locais e como ambos afetariam os jogadores. Uma das soluções era que as camisas drenassem a transpiração. Por isso, a pedido de Neil Phillips, médico da delegação inglesa no primeiro desses Mundiais, foram criadas camisas com um tecido mais leve e com pequenos furos, batizadas de Air-Tech.
Mas no México 1970, os ingleses iriam além. Como se sabia que as cores claras absorviam melhor o calor, eles decidiram que a camisa vermelha que usaram na conquista do título de quatro anos antes seria o terceiro uniforme. A primeira opção seria totalmente branca e a segunda, totalmente azul-celeste, incluindo shorts e meias – algo inédito para o conjunto. Foi assim que enfrentaram a Tchecoslováquia, que jogou com um uniforme muito parecido, todo branco. Apesar da vitória inglesa por 1 a 0, a decisão foi considerada um erro.
“Acho que minha escolha de que o azul-celeste fosse a segunda cor foi ruim. De onde eu estava sentado, olhando da sombra para o sol, era muito difícil distinguir os jogadores”, admitiria Alf Ramsey, técnico da Inglaterra. A TV também reclamou da semelhança – o contraste entre as seleções era mínimo e, como a maioria dos telespectadores tinha aparelhos em preto e branco, quase não podiam diferenciá-las. Por tudo isso, contra a Alemanha os britânicos usaram a camisa vermelha. Naquele dia, não só fez muito calor, como também houve prorrogação. A Inglaterra perdeu por 3 a 2 e foi eliminada.
Camisa feita às pressas da Argentina
Para 1986, a Argentina também levou camisas Air-Tech, mas só o primeiro uniforme, o alviceleste, tinha essa característica. Contra o Uruguai, nas oitavas, a equipe jogou com o segundo uniforme, com uma camiseta azul-marinho feita de algodão. O técnico Carlos Bilardo se preocupou: contra a Inglaterra, nas quartas de final, ao meio-dia na Cidade do México, os jogadores não podiam usar aquela “armadura”.
O técnico pediu à marca que confeccionava os uniformes à época que fizesse camisetas azuis, mais leves. “Impossível em tão pouco tempo” foi a resposta. A três dias do jogo, mandou Rubén Moschella, um colaborador, percorrer as lojas da capital mexicana. Ele voltou com dois modelos azuis. Pesaram as duas, mas não se decidiram – até que apareceu Diego Maradona. O camisa 10 apontou uma delas e disse: “Que linda esta camisa. Com ela ganhamos da Inglaterra”.
Moschella voltou à loja e comprou 38 das camisetas escolhidas pelo capitão. Um desenhista rascunhou de urgência o escudo da Associação do Futebol Argentino, costureiras coseram o distintivo em cada camisa e uns números prateados, usados no futebol americano, foram fixados a ferro de passar no dorso. Horas depois, Maradona faria história primeiro com “A mão de Deus” e depois com um dos gols mais bonitos da história – ambos com uma camisa comprada às pressas em uma loja qualquer da Cidade do México.
Camisa da França Alviverde
No dia 10 de junho de 1978, França e Hungria se preparavam para jogar em Mar del Plata seu último compromisso na Copa do Mundo da Argentina, após já terem sido eliminadas no Grupo 1. Faltava meia hora para o início e algo sob o agasalho dos húngaros chamou a atenção de Henri Michel.
“Camisa branca?”, perguntou o então capitão do Nantes a Andras Torocsik. “Camisa branca”, respondeu o atacante húngaro. Michel explicou então que daquele jeito jogaria a França, mas Torocsik insistiu que era a Hungria quem usaria branco. E o que era uma curiosidade se transformou em um problema para ser resolvido com urgência.
Cada delegação assegurou que tinha uma circular da FIFA informando que deveria jogar de branco. Discutiram até que Henri Patrelle, dirigente francês, empalideceu. “Sou o único responsável. Nunca cheguei a ler a segunda circular, que modificava a primeira”, disse. A França deveria trocar de camisa, mas não tinha nenhuma. O primeiro uniforme, azul, estava a 400 quilômetros, em Buenos Aires.
Enquanto o público vaiava o atraso, um carro de polícia foi a toda velocidade até o Club Atlético Kimberley. Voltou com as camisas de listras alviverdes do tradicional clube marplatense e os famosos Bleus trocaram de cor para derrotar os rivais por 3 a 1. Mas o curioso era que o Kimberley, como qualquer time da época, só tinha camisas numeradas de 1 a 16. Dominique Rocheteau marcaria um gol com o número 18 no short azul, mas com o 7 no dorso.
Na história das Copas do Mundo, houve outros casos em que uma seleção precisou usar camisas de um clube por causa da semelhança de cores com o adversário. Um exemplo foi o México do Brasil 1950, que usou uma camisa de faixas brancas e azuis verticais cedida pelo Cruzeiro para enfrentar a Suíça. Oito anos depois, a Argentina estrearia na Suécia 1958 contra a Alemanha Ocidental usando a camisa amarela do Malmö.
Velha Senhora costa-riquenha
A Itália 1990 é inesquecível para a Costa Rica. Logo em sua primeira participação em um Mundial, o selecionado conseguiu chegar às oitavas de final. Mas não só o desempenho entrou para a história; o uniforme também.
Depois de ganhar da Escócia na estreia vestindo uma camisa vermelha com gola branca, os costa-riquenhos enfrentariam o Brasil de Careca e Alemão. Não havia semelhança de cores que exigisse a troca de uniforme, mas o conjunto pisou no gramado do Estádio Comunale de Turim com uma camisa de faixas verticais brancas e pretas. A justificativa da Federação Costa-Riquenha foi uma homenagem ao Libertad, um dos primeiros clubes do país, então extinto. Mas usar essas cores naquele dia teve uma segunda intenção.
“O Bora propôs jogar com essa camisa por causa da Juve”, lembra Alexandre Guimarães, jogador daquela seleção. “Bora” é Milutinovic, técnico do conjunto naquele Mundial. Verdadeiro “rato” da área técnica, o sérvio quis que a torcida da Velha Senhora se identificasse com a Costa Rica. Mas o truque não funcionou. “Não deu certo porque os brasileiros lotaram as arquibancadas”, explicou o ex-atleta. A Costa Rica perdeu de 1 a 0, mas voltou a vestir a camisa alvinegra quatro dias depois e derrotou os suecos por 2 a 1, garantindo a classificação.
Mensagem oculta na camisa da Bolívia
No Uruguai 1930, a Bolívia protagonizou um dos fatos mais curiosos de todos os tempos. Na estreia contra a Iugoslávia, os jogadores bolivianos entraram em campo com uma camisa branca, cada um com uma letra sobre o peito. Ao se posicionarem para a foto, o mistério foi desfeito: os 11 titulares formavam a frase “Viva Uruguay”.
Foi assim que jogaram e perderam por 4 a 0, mas na partida seguinte, contra o Brasil, não puderam repetir a estratégia. Como os brasileiros também usavam branco, a Bolívia teve que vestir uma camisa azul-celeste presenteada pelos anfitriões.
Talismã verde, amarelo e azul
O Brasil jogou com camisas brancas entre 1914 e 1950, quando o jornal Correio da Manhã apontou o uniforme como “maldito” depois do Maracanazo. Para a publicação, daquela maneira não se podia continuar. Junto da Confederação Brasileira de Desportos, organizou um concurso cujas bases eram inegociáveis: o conjunto teria que combinar as cores da bandeira brasileira. Quem ganhou foi um escritor e ilustrador gaúcho de apenas 18 anos, Aldyr Garcia Schlee, que imaginou o uniforme mais famoso do mundo: a camisa amarela com detalhes verdes, short azul e meias brancas.
A Seleção o estreou na Copa do Mundo da Suíça 1954 contra o México. Goleou por 5 a 0 e aquilo talvez tenha sido um presságio. O Brasil ganharia cinco títulos vestido como Schlee imaginou, embora o da Suécia 1958 teria sua particularidade. Na final, os suecos já usavam a camisa amarela como primeira opção. Houve um sorteio, os europeus ganharam e o Brasil precisaria mudar. Outra vez o branco? Nem de brincadeira.
Dois dias antes do jogo, a delegação brasileira comprou, em uma loja de Estocolmo, um conjunto de camisas azuis, a cor de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do Brasil. Tiraram os escudos originais, costuraram os da CBF e os jogadores foram para campo. Pelé e Garrincha fizeram mágica e o Brasil ganhou por 5 a 2. Foi o primeiro título mundial brasileiro e o início de outra tradição: desde então, a camisa reserva da Seleção é sempre azul.
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