A década de 90 foi marcada por “coisas bem loucas” no mundo das camisas de futebol, com designs bem diferentes do que estávamos a acompanhar até então, mudanças drásticas na composição dos mantos, entre outras coisas. Hoje falaremos não de uma camisa específica, mas sim de uma coleção delas: as famosas camisas da Dell’Erba nos anos 90. Mas antes de tratarmos exclusivamente daqueles modelos “chamativos”, vamos falar um pouco das origens da marca.
O início da Dell’Erba
Tudo começou na década de 50, quando Sérgio Dell’Erba criou a Casa Dell’Erba de Esportes, na Lapa, em São Paulo, para vender artigos esportivos comuns. Mas, o fundador percebeu que poderia investir mais e que valia a pena partir para o mercado da confecção e a partir daí a marca começou a produzir camisas, calções e meiões e em pouco tempo já estava vestindo grandes times do futebol brasileiro, como Palmeiras e São Paulo, principais clientes da empresa. Sempre bom lembrar que naqueles tempos não existia patrocinador de fornecimento e os clubes compravam os próprios uniformes.
Há quem diga também que a Dell’Erba era quem fabricava os calções da Seleção Brasileira para a Athleta nas Copas do Mundo de 1954 a 1974, fato que não foi confirmado por Antônio Bulgarelli, neto do fundador da Athleta, em entrevista para a Vice, apesar do mesmo revelar que a fornecedora produzia alguns calções para a marca.
Com o sucesso de seus principais clientes nos anos 70, a marca começou a se expandir. No fim da década, fechou contrato com a São Paulo Alpargatas, que detinha as marcas Topper e Rainha à época, para ser a fábrica por trás dessas marcas. Foi assim que a Dell’Erba criou os uniformes da Seleção Brasileira para as Copas de 1982, 86 e 90, algo que não foi confirmado pela Topper, e, por exemplo, do Corinthians, na época da “Democracia Corintiana”, esta comprovada pois, em muitas camisas dessa época está lá a etiqueta da empresa.
Réplicas italianas
Com o crescimento do empreendimento, a empresa decidiu por criar a própria marca, que seria estampada nas camisas e outros produtos. A primeira aposta foi na criação de réplicas de clube italianos, que faziam muito sucesso no Brasil, com as transmissões da Bandeirantes, numa época em que pensar em encontrar modelos originais por aqui era absurdo.
Assim, a empresa passou a lançar as camisas de times como Milan, Napoli, Inter, Juventus, entre outros, com o design muito próximo ao das originais, copiados “na raça” por Ricardo Dell’Erba, filho de Sérgio e atual dono. Foi um sucesso.
Auge nos uniformes dos anos 90
“Mas, Mantos, e as camisas doidas dos anos 90?” Chegamos ao grande momento! Toda essa história culminou no que falaremos agora.
Com o crescente sucesso da marca Dell’Erba, a empresa passou a investir em maquinário e desenvolveu diversas técnicas inéditas para a época, como o uso de poliamida e a SUBLIMAÇÃO, em caixa alta mesmo, pois é graças a esse tipo de estampa que temos as camisas eternizadas até hoje.
O primeiro time, oficialmente, a vestir as novas camisas da Dell’Erba foi o Central Brasileira, do interior paulista, que tinha em seu elenco jogadores em final de carreira como Luís Pereira, Wladimir e Enéias. A primeira equipe tradicional foi o América-RJ, logo depois.
Logo, a marca estaria no peito do Bragantino, talvez seu principal clube nessa história, e juntos foram campeões paulistas em 1990. Mas foi em 1991 que veio o grande momento: o Bragantino foi vice-campeão brasileiro e trajava um dos mantos mais inesquecíveis do futebol brasileiro: a camisa Carijó, com um grafismo de formas geométricas pelo corpo todo. “Tudo é uma combinação de fatores. Se o Bragantino não tivesse um time bom, talvez ninguém desse bola para a camisa deles. É aquela história: você fala algo e percebe que agradou, a confiança cresce”, disse Ricardo, em entrevista à Vice. Por sinal, sabia que o modelo foi inspirado na camisa de treino da Escócia, feita pela Umbro?
Tamanho foi o sucesso que o modelo se tornou template, para que times amadores que fizessem suas camisas na empresa, pudessem copiar a camisa o Braga. Outras marcas, como CCS, Finta e Penalty começaram a investir em estampas “loucas” também.
A grande verdade é que essas estampas diferenciadas acabaram se tornando uma grande oportunidade de mercado, uma vez que, além de fazerem enorme sucesso, ainda eram muito pouco exploradas por aqui.
A Dell’Erba passou, nos anos seguintes, a fornecer uniformes “exóticos” para várias equipes, como América-SP, Atlético-MG,Botafogo-SP, Guarani, Noroeste, Paraná, Portuguesa, Santos, Vitória, União São João e outros, cada um com um estilo diferente. “Cada estampa que eu inventava, precisava enfiar em algum clube para poder vender também as camisas sem clube”, disse Ricardo à Vice.
Além disso, a empresa continuava a produzir aquelas réplicas de times europeus. Ajax, Barcelona e Borussia Dortmund foram alguns deles.
No auge, a empresa chegou a vender 70 mil camisas por mês.
Queda e fim
Mais para o final da década de 90, o mercado de uniformes esportivos do Brasil começou a se inflacionar, principalmente após a chegada da Nike à Seleção Brasileira, em 1997. Isso, somado a entrada de produtos chineses com preços bem mais em conta, começou a dificultar a vida da empresa, que perdeu muito espaço no mercado.
Em determinado momento, o foco da Dell’Erba passou a ser novamente em ser fábrica para marcas internacionais produzirem seus produtos. Dessa vez, as marcas envolvidas eram a Adidas, Diadora, Fila, New Balance e Reebok. A fábrica chegou a produzir as camisas do River Plate que eram enviadas à Argentina. Ricardo também diz que a Nike consultou a empresa fabricar seus materiais, o que não foi confirmado pela marca americana.
A fornecedora ainda forneceu os uniformes do Noroeste de Bauru, na metade da década passada, mas fechou as portas em 2010, quando entrou com pedido de recuperação judicial.
Veja também:
[+] Rhumell: A obscura marca dos anos 90
[+] Champs: Ascensão e queda da polêmica fornecedora nos anos 2000
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