Entre os assuntos mais interessantes e controversos no universo dos uniformes de clubes de futebol está o uso de estrelas. Na Europa, é comum que se inclua uma a cada cinco ou dez títulos nacionais. O exemplo mais célebre disso é sem dúvida o da Juventus, a única equipe a conquistar pelo menos 30 Campeonatos Italianos (e, por isso, a única com três estrelas na camisa), mas outros clubes dignos de serem mencionados são o Benfica, de Portugal, e o Malmö, da Suécia (ambos também recordistas em seus países).
No Brasil não há norma ou convenção em relação ao uso de estrelas, e em certos casos elas são utilizadas para a valorização de conquistas não tão óbvias. Isso porque, por mais que nos jornais de grande circulação, nas transmissões televisivas ou nos sites de apostas online o futebol seja o esporte que gera mais atenção — e, obviamente, o que movimenta mais dinheiro —, alguns dos maiores clubes do país fazem questão de mostrar que têm uma história que vai além do que acontece em nossos gramados.
Estrelas não futebolísticas
A primeira das oito estrelas do Vasco da Gama, por exemplo, homenageia as conquistas invictas de 1945 dos campeonatos cariocas de remo e de futebol. E, das cinco estrelas do São Paulo, apenas três (as vermelhas) fazem referência ao futebol: os títulos da Copa Intercontinental de 1992 e 1993 e da Copa do Mundo de Clubes de 2005. As outras duas (as douradas) fazem referência a conquistas de Adhemar Ferreira da Silva (o maior nome do atletismo brasileiro) na época em que defendia as cores do clube.
Sendo Adhemar bicampeão olímpico no salto triplo em 1952 e 1956, é bastante lógico que se pense que as duas estrelas no uniforme do Tricolor Paulista fazem referências a tais conquistas. É isso que se diz, por exemplo, numa matéria publicada no site Gazeta Esportiva dois anos atrás. Acontece que, na época de seu segundo ouro olímpico, Adhemar já não era atleta do São Paulo (onde começou a carreira, em 1947), e sim do Vasco (onde esteve desde 1955 até se aposentar, em 1960). De onde vêm as duas estrelas, então?
O próprio site oficial do clube do Morumbi esclarece a questão. No primeiro parágrafo de uma matéria escrita por Michael Serra publicada em celebração aos 94 anos do nascimento de Adhemar (em 29 de setembro de 2021), pode-se ler que as estrelas douradas no uniforme do São Paulo não se referem a títulos mundiais conquistados por ele, mas sim às suas quebras de recordes mundiais: em 1952, nos Jogos Olímpicos de Helsinque, e em 1955, nos Jogos Pan-Americanos da Cidade do México.
O futuro das estrelas
Existem bons motivos para defender a padronização do uso de estrelas no Brasil nos moldes de países europeus. Quando já não houver controvérsias em relação a competições como o Campeonato Brasileiro de 1987 (apesar de todas as vitórias jurídicas do Sport), é bem possível que isso aconteça. Até lá, os clubes terão todo o direito de fazer desse símbolo uma oportunidade de definir as suas conquistas mais emblemáticas e lembrar a todos os que se interessam por história que nem só de futebol vive o brasileiro.