Temos visto nos últimos anos um aumento muito grande nos preços de camisas de futebol aqui no Brasil. Camisas de times considerados grandes, que até poucos anos atrás custavam R$149, hoje giram em torno de R$249, isso na versão torcedor (versão jogador, ou Authentic, chega a custar R$399 em alguns casos). O que antes era o preço pago por uma camisa de time de primeira divisão, produzida por uma grande marca do mercado mundial, hoje é o preço de uma camisa de time com uma camisa produzida por marcas nacionais menores.
Mas antes que digam “Ahhh, mas só no Brasil mesmo que essas coisas acontecem”, temos que informar que lá fora isso também tem ocorrido. Alguns anos atrás, inclusive, o preço das camisas da Seleção Inglesa, produzidas pela Nike, foram alvo de críticas até mesmo por membros do parlamento inglês, que o consideraram um absurdo.
Procuramos então entender o porque desse aumento abrupto nos preços do mercado de camisas de futebol e como eles são definidos. Para isso, conversamos com o economista Victor Oliveira, que trouxe algumas respostas.
“A ideia geral que se tem na criação de preços é de que a empresa os define para gerar lucro para si mesma, considerando todo o demais como dado (demanda, taxação, custos de produção, entre outros). O investimento em novas tecnologias deixou o custo da produção muito mais caro. Considerando apenas o mercado de camisas de futebol, é possível pensar que a queda no preço, e consequente aumento das vendas, não compensaria a diminuição na margem de lucro. Nesse caso, a receita total cairia e, com o aumento do custo total, o lucro diminuiria. Isso também está relacionada as características dos consumidores, pois é fato que os consumidores aceitam pagar esse preço pelo produto. Uma mudança de comportamento por parte do consumidor poderia forçar a queda dos preços”, diz Oliveira.
Segundo o economista, uma empresa como a Nike, que possui diversos segmentos, não pode simplesmente abaixar os preços de um deles e deixar os outros “na mesma”, pois isso impactaria negativamente. “Além disso, temos que considerar que as grandes empresas do setor definem os preços de forma a considerar seus diversos segmentos na busca de maximizar seu lucro. Ou seja, se a empresa decidisse abaixar o preço que cobra pela sua camisa de futebol, também precisaria reduzir o da camisa que não é de clube de futebol para não haver maior concorrência entre elas. Além disso, todos os segmentos são impactados por impostos, custos de transporte e indiretamente pela burocracia ao importar, por exemplo. Quanto maiores eles forem, maior será o preço”.
Buscamos então fazer um comparativo entre os valores pagos em camisas de futebol aqui no Brasil e em países importantes economicamente e onde o futebol é o, ou é um dos, principais esportes, e a resposta é que os valores são praticamente iguais. Confira abaixo a tabela:
Podemos observar que a diferença entre o menor preço (Inglaterra = R$ 230) para o maior (França, Itália e Portugal = R$ 300) é de apenas 70 reais, enquanto o restante está numa margem bem próxima.
O Brasil teria o terceiro menor preço entre os países listados, atrás apenas da Inglaterra e do México, mas isso não quer dizer muito sobre a real situação, pois o que importa realmente é o poder de compra da população, o que leva o Brasil ao título de “camisa mais cara do mundo”.
Ao fazermos a relação “rendimento mensal médio x preço médio”, temos a porcentagem de salário necessária para comprar uma camisa de futebol em cada um dos países citados.
A Alemanha aparece como a camisa com menor impacto no salário médio do cidadão, com apenas 2,05%, seguida pelos Estados Unidos, com 2,31%, e a Inglaterra, que tem a camisa com preço menor, mas que impacta um pouco mais (2,51%).
Os outros países da Europa aparecem logo atrás, com valores parecidos, exceto Portugal, que com 6,91% de impacto, tem a camisa mais cara do continente.
Segundo Oliveira, o país luso destoa dos demais e tem um valor maior por causa do seu salário médio, que é menor do que o dos outros europeus.
E apenas depois dos portugueses é que aparecem os países latinos. A Argentina é o que possui a camisa “mais em conta” entre eles, mas que ainda é muito mais cara em comparação às camisas europeias e as dos Estados Unidos, trazendo um impacto de 9,42% no salário médio. O México surge como a segunda colocada na lista das camisas mais caras, apesar do preço médio ser o segundo menor, com 10,57% de impacto no salário.
E enfim, aparece o Brasil. Nossas camisas, apesar de terem o terceiro preço mais baixo se comparado com as outras listadas, têm o maior impacto no salário, com 11,87%, o que torna nossa população a que tem o menor poder de compra de camisas de futebol no mundo.
Segundo uma notícia do ano passado, o preço da camisa de futebol era composto na época por 34,67% de impostos, o que, se trouxermos para os valores médios atuais, chega a R$86,64 (o preço sem imposto ficaria então em R$163,23).
Agora vamos fazer um teste. Sem impostos, quanto seria o impacto de uma camisa no rendimento médio brasileiro? Pegamos o valor de R$ 163,23 e dividimos pelo rendimento mensal, o que dá um resultado de 7,75% de impacto. Isso seria o menor valor entre os países latinos, porém ainda seria muito maior do que o impacto verificado nos países europeus e nos Estados Unidos.
Gostou do nosso estudo sobre o preço das camisas de futebol pelo mundo?